O caranguejo teve alta de quase 8% entre janeiro e agosto deste ano na Região Metropolitana de Belém, segundo estudo divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em parceria com a Secretaria Municipal de Economia (Secon). No mesmo intervalo, a inflação foi de 1,16% da Grande Belém, conforme aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A pesquisa mostrou que o caranguejo do tipo médio, comercializado em feiras livres e mercados municipais, custava uma média de R$ 2,05 em dezembro do ano passado, passando para R$ 2,25 em janeiro e agora chegando a cerca de R$ 2,21. Como em julho o alimento era vendido a uma média de R$ 2,18, a alta mensal foi de 1,38%.

Nas feiras da capital paraense, o movimento de alta já foi sentido. De acordo com o vendedor Cláudio Figueiredo, esse é um comportamento normal da cadeia produtiva do caranguejo. “A maré cheia atrapalha, e ele fica trocando de casca, fica fraco, morrem muitos”, disse. Geralmente, a troca de casco ocorre em setembro, quando o caranguejo “fica de leite” – o leite é uma substância branca leitosa, produzida pelo organismo do caranguejo no período que antecede a troca de casco, e que formará a nova carapaça. Nessa época, o caranguejo não pode ser comido. “Não é que a gente queira vender por preços mais altos, é da natureza dele. Tem tempo que ele tá em extinção ou que não podemos retirar do habitat, isso é normal”.

O comerciante explica que o “tempo” do caranguejo é em dezembro. “Ele fica mais forte”, explicou. Cláudio ainda adianta que, daqui para novembro, o caranguejo vai ficar mais caro. Um dos motivos para isso, segundo ele, são as exportações, que deixam o mercado relativamente escasso. “Tem falta para gente. Às vezes, trabalhamos com 10 sacas e outras vezes com três ou quatro”, pontua Cláudio.

Já o vendedor Álvaro Paiva discorda. Ele diz que esse comportamento não é normal. “Começou a falhar muito o caranguejo na tapagem de agora, isso é difícil de acontecer, estranhamos esse problema. Se antes vinham 10 sacas, hoje diminuiu para cinco, e o preço aumentou onde a gente compra”, contou. Logo após a andada, os caranguejos começam a ‘se tapar’, cavando buracos mais fundos, armazenando alimento e tapando os buracos com montes de lama. Quando as folhas armazenadas acabam, eles destapam o buraco, carregam mais folhas para dentro de sua toca e voltam a tapá-la. Nessa época, é necessário conhecer muito bem o comportamento do caranguejo para capturá-lo, e ele fica nessa fase até a troca de casco. Na feira onde Álvaro trabalha, o caranguejo já custa R$ 3, mas não houve falta de clientes. Ele explica que, nas outras feiras, falta o produto, mas lá não. “É difícil faltar aqui, quem quer compra, mas acaba rápido”, ressalta.

Ainda segundo o estudo do Dieese e da Secon, os reflexos das altas no preço do caranguejo em 2020 também poderão ser sentidos nas compras do produto em bares e restaurantes da Grande Belém. Em um estabelecimento da capital paraense, por exemplo, a alta será repassada ao consumidor em dezembro. De acordo com a proprietária, Sílvia Gatinho, por conta da pandemia, o movimento caiu no local, então não foi possível mudar os valores agora, mas ela notou preços mais altos na compra dos fornecedores. "Nessa época do ano, os caranguejos estão trocando casco, fica raro, difícil conseguir, então geralmente aumenta o preço mesmo. Agora ficou ainda mais difícil porque muita gente está recebendo auxílio e não está indo retirar caranguejo", contou a empresária. Hoje, no restaurante, o alimento custa R$ 10.

Elisa Vaz/OLiberal