A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realizou em parceria com a WWF-Brasil realizou um estudo que indica que o povo indígena munduruku, no médio rio Tapajós, nos municípios de Itaituba e Trairão, estão sendo contaminados por mercúrio de atividades de garimpo. Todos os participantes da pesquisa foram afetados pelo metal. Já seis de cada dez participantes apresentaram níveis de mercúrio acima de limite seguro de 6µg.g-1 – que é o limite máximo de segurança estabelecido por agências de saúde. A contaminação é maior em áreas mais impactadas pelo garimpo, nas aldeias que ficam às margens dos rios afetados. Nessas localidades, nove em cada dez participantes apresentaram alto nível de contaminação. As crianças também são impactadas: cerca de 15,8% delas apresentaram problemas em testes de neurodesenvolvimento. O processo incluiu entrevistas, avaliação clínico-laboratorial, coleta de amostras de cabelo e coleta de amostras de peixes para aferição dos níveis de mercúrio.
O coordenador do estudo, Paulo Batista, afirma que o projeto nasceu de um pedido da Associação Indígena Pariri, representante dos munduruku. "Os resultados nos mostram que a atividade garimpeira vem promovendo alterações de grande escala no uso do solo nos territórios tradicionais da Amazônia, com impactos socioambientais diretos e indiretos para as populações locais, incluindo prejuízos à segurança alimentar, à economia local, à saúde das pessoas e aos serviços ecossistêmicos", avalia o pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública.
A análise também mostrou que os peixes, principal fonte de proteína das comunidades, também estão contaminados. Os dados obtidos indicam que 96% dos participantes ingerem peixes regularmente na região. Foram capturados 88 exemplares de peixes de 18 espécies diferentes e todos estavam contaminados. A partir daí, o estudo descobriu que as doses de ingestão diária de mercúrio estimadas para os participantes foram 4 a 18 vezes superiores aos limites seguros indicados pela Agência de Proteção Ambiental Norte-Americana (EPA). As espécies piscívoras, ou seja, que se alimentam de outros peixes, apresentaram os níveis mais altos de contaminação. As maiores médias foram reportadas entre a piranha preta (Serrasalmus rhombeus), ultrapassando em quase quatro vezes o limite máximo permitido (0,5 µg.g-1) para comercialização e consumo de pescado.
“Os indígenas querem saber o que comer, pois os peixes contaminados estão na nossa mesa e o alimento que temos vem do rio. A presença do garimpo afeta não só a saúde, mas toda a nossa vida social com a chegada das drogas, da violência doméstica e da prostituição. É preocupante, mas precisamos de uma solução. A gente tem que criminalizar e punir as pessoas que contaminam o rio”, revela a líder indígena Alessandra Korap Munduruku. O estudo traz também uma série de recomendações, incluindo a interrupção imediata do garimpo em terras indígenas, um plano para descontinuar o uso de mercúrio no garimpo, assim como um plano de manejo de risco para as populações expostas ao mercúrio. A coleta de dados ocorreu entre 29 de outubro e 9 de novembro de 2019, com 200 habitantes de três aldeias: Sawré Muybu, Poxo Muybu e Sawré Aboy.
Fonte: Redação Integrada/OLiberal