O Pará registrou 8.750 registros de nascimentos emitidos em janeiro de 2021 - uma queda de 19% em relação ao número registrado no mesmo período de 2020, quando 10.813 registros foram emitidos.
Um desses nascimentos foi o de João Daniel, que veio ao mundo no dia 25 de janeiro. A mãe, Wanessa Cavalcante, já planejava ter o primeiro filho há um tempo, mas desde março a pandemia de coronavírus a encheu de incertezas.
"Eu acho que esse número baixo tem a ver com o vírus, pois eu mesma pensei muito nisso. Em março eu já queria engravidar, mas após algumas tentativas, decidi usar métodos contraceptivos ao ver a situação da contaminação pelo mundo. Em maio, engravidei. Muitas pessoas se planejam para se tornar pai ou mãe, mas esse cenário é muito complicado, até por termos poucos estudos sobre isso", avalia.
Wanessa está certa. Os estudos são, de fato, escassos na área. Porém, evidências preliminares publicadas no New England Journal of Medicine mostram que mulheres grávidas com covid-19 têm 1,5 vezes mais risco de internação em unidade de terapia intensiva (UTI).
Já o risco de evoluir para um quadro de necessidade da ventilação mecânica é 1,7 vezes maior em relação às pacientes não gestantes infectadas pelo vírus na mesma faixa etária.
Ainda assim, segundo a publicação, não há respaldo científico no momento para desaconselhar a gravidez durante a pandemia, contanto que todos os cuidados sejam tomados, além do fortalecimento da imunidade da mãe, que divide nutrientes com o feto durante a gestação.
Por conta disso, em abril de 2020 o Ministério da Saúde anunciou que grávidas e puérperas faziam parte do grupo de risco da covid-19.
João Daniel nasceu após 35 semanas e seis dias de gestação, bem antes das 40 semanas recomendadas. Mas, pelo peso, estrutura e reflexos, os médicos não consideraram que ele tinha características de um bebê prematuro - o que deixou Wanessa aliviada.
O parto de Wanessa foi natural, o que exige um esforço respiratório maior das grávidas e é menos indicado para as mães que apresentam comprometimentos pulmonares, especialmente por conta da pandemia,
"Foi uma gravidez tensa, pois eu fiquei muito amedrontada por saber que minha imunidade estava comprometida, o que é natural durante a gravidez. A gente se previne, claro, mas sabendo que muitos não se previnem da forma adequada. Graças a Deus, tudo certo lá no [hospital] Abelardo [Santos] durante o meu parto. Todos de máscara, todas as grávidas bem tratadas, cada uma somente com um acompanhante. O hospital não estava lotado", lembra ela.
Na capital paraense, onde João nasceu, a redução no número de nascimentos chegou a 57,05%, com 2098 registros em janeiro de 2020 e somente 1197 novos belenenses nascendo em janeiro deste ano.
Os dados do Portal da Transparência do Registro Civil são reforçados pelo balanço mensal da área de obstetrícia e maternidade da Fundação Santa Casa de Misericórdia, em Belém.
No mês de janeiro de 2021, a Fundação registrou a terceira queda consecutiva no número de partos realizados: foram 897 no primeiro mês do ano de 2019, contra 725 no mesmo período de 2020 e 690 em 2021. A média de partos realizados por mês na Santa Casa em 2020 foi de 711 e, em 2019, 815.
O cenário é similar no resto do Brasil: janeiro de 2021 teve a menor taxa de registro de nascimento desde 2002. No total, foram registrados 207.901 nascimentos, 15,1% a menos do que em janeiro de 2020, quando 244.974 mini-brasileiros foram registrados.
Entre os 26 estados e o Distrito Federal, apenas Rondônia registrou alta, com um aumento de 3% nos nascimentos no período. No topo da lista, com as maiores reduções, ficaram os estados do Maranhão (-26%), Amazonas (-23,9%), Roraima (-23,1%), Piauí (-21,3%) e Mato Grosso (-20,8%).
A Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais diz que o número de nascimentos registrados em 2021 ainda pode aumentar, uma vez que os prazos para registros chegam a prever um intervalo de até 15 dias entre o nascimento e o lançamento do registro no Portal da Transparência.
Outro fator apontado pela Associação é a expansão do prazo legal para comunicação de registros concedida por alguns governos estaduais, por conta da pandemia de coronavírus.
Fonte: Eduardo Laviano