O número de pedidos de demissão cresceu significativamente em março deste ano no Pará: na comparação com 2020, último mês de março não afetado ainda pelas restrições econômicas por conta da pandemia da covid-19, houve uma alta de 101,4%, passando de 3.499 para 7.047. Já em relação ao ano passado, o reajuste ficou na casa dos 37,07% - em março de 2021, houve 5.141 pedidos de desligamento no Estado. Em março deste ano, o setor que mais gerou demissões a pedido foi serviços, com um total de 2.703, seguido do comércio (2.268), indústria (762), construção (695) e agropecuária (619). Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), vinculado ao Ministério do Trabalho.
Na comparação de trimestres, o período de janeiro a março deste ano também foi pior que o verificado nos dois anos anteriores. O órgão aponta uma alta de 88,95% entre o primeiro trimestre de 2020 e o de 2022 – o número passou de 10.887 para 20.572. Também houve um crescimento ao comparar com os três primeiros meses do ano passado. Na época, os pedidos de demissão somaram 16.322, o que representa um percentual de reajuste de 26,03%.
Na avaliação do economista Nélio Bordalo, o cenário é resultado da pandemia, que causou fechamento de muitas empresas em vários segmentos da economia paraense, o que refletiu na demissão de muitos trabalhadores. Essas pessoas desempregadas procuraram, durante a crise, opções de vagas de trabalho para manter as suas famílias, ou seja, para a sobrevivência.
“Em uma segunda etapa, com a redução do contágio do coronavírus e o retorno de empresas, ou até a instalação de novas empresas no mercado paraense, esses mesmos trabalhadores começaram a pedir demissão, com movimento para suas atividades anteriores, antes da pandemia. Possivelmente, também, essas demissões são justificadas pela busca de oportunidades diferentes, pessoas que estão procurando outro estilo de vida e empregos melhores, muito por conta do trabalho remoto”, opina.
Presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Pará (ABRH-PA), Junior Lopes concorda. Ele acredita que um dos principais fatores é que os trabalhadores deixaram de se contentar com “qualquer emprego”. Na opinião dele, quando a pandemia se agravou, muitas pessoas ingressaram em vagas das quais não gostavam por necessidade, mesmo com um salário mais baixo que o ideal.
“Provavelmente, a economia não tinha tanta dificuldade como temos hoje, e as empresas tinham uma política de contratação mais alinhada com o momento que vivíamos antes da pandemia. Mas, com as dificuldades, as pessoas começaram a aceitar qualquer alternativa de emprego, mesmo com salário baixo. E agora há uma alta demanda de profissionais, porque o mercado começa a voltar para uma estabilidade. Quem aceitou qualquer emprego para sobreviver já não quer mais”, comenta.
Para as empresas, esse dado também é negativo, porque ressalta um “erro estratégico” das organizações, que são políticas não elaboradas para retenção do trabalhador. Segundo Junior, é preciso que haja uma cultura forte de valorização do colaborador, para evitar altos índices de demissões e, consequentemente, a entrada de novos profissionais.
“É complicado porque as demissões dão uma rotatividade muito grande. É necessário que as empresas tenham uma boa política de retenção, porque as demissões provocam um trabalho extra do processo de desligamento, pagamento de benefícios, custos para uma nova contratação e ainda tem o período de adaptação do novo profissional, que não será tão produtivo no início do trabalho. Na retenção entra uma boa remuneração, benefícios subjetivos, planos de carreira, auxílios, valorização do profissional e, claro, um clima organizacional saudável e a motivação do time. Em empresas com princípios e valores fortes, o trabalhador se sente parte do lugar”, declara o presidente da ABRH-PA.
A designer de moda Alessandra Nascimento, de 44 anos, está entre tantos trabalhadores que deixaram seus empregos este ano. Ela saiu do trabalho, na área administrativa, em fevereiro, e conseguiu um acordo. O motivo do desligamento, segundo ela, foi cuidar do filho, Lucas, de seis anos, mas a trabalhadora conta que ter saído do emprego a motivou mais ainda para o empreendedorismo.
“Eu já tenho uma empresa de pijama, que nasceu devido ao Lucas, porque eu comprava muito pijama importado, mas acabou ficando muito caro por causa da alta do dólar e, como sou formada em design de moda, resolvi fabricar esses pijamas. Passei a comprar tecidos de outros Estados e até de outros países. Recentemente, conheci uma feira de empreendedores, que é dentro de um condomínio, e eu participo com os pijamas, lá tem vários segmentos. Pretendo inaugurar neste sábado à noite”, afirma.
Dados sobre demissões no Pará
Março/2020: 3.499
Março/2021: 5.141
Março/2022: 7.047
Variação 2020/2022: 101,4%
Variação 2021/2022: 37,07%
1º tri/2020: 10.887
1º tri/2021:16.322
1º tri/2022: 20.572
Variação 2020/2022: 88,95%
Variação 2021/2022: 26,03%
Fonte: Caged/Elisa Vaz/OLiberal