O primeiro transplante de medula óssea do norte do Brasil será realizado na próxima sexta-feira (17), em Belém. O procedimento é indicado para o tratamento de mais de 80 doenças de sangue, incluindo leucemia e alguns tipos de anemia. No Pará, mais de 300 pessoas têm indicação para o transplante. O procedimento será feito no Hospital Saúde da Mulher (HSM), com credenciamento do Ministério da Saúde (MS).
O hematologista João Saraiva, responsável técnico da Unidade de Hematologia e Transplante de Medula Óssea do HSM, diz que, com a chegada do primeiro centro de transplante no estado, a qualidade de vida dos pacientes deve melhorar muito: “não há mais necessidade de se deslocar para outros Estados, a fim de continuar o tratamento hematológico. O hospital tem capacidade operacional para atender 10 pacientes por mês, o que, para transplante, é um número muito bom”.
O médico também estima que a quantidade de pessoas com indicação para o transplante seja ainda maior do que o que se sabe até agora: “Porque, como não tínhamos o procedimento disponível aqui, muitos pacientes nem chegavam a receber indicação para transplante, por parte da equipe médica. Agora a ideia é que esse número seja maior, mas que também possamos tratar os pacientes”.
João Saraiva conta que o paciente do primeiro transplante de medula óssea é um homem de 54 anos, portador de mieloma múltiplo, um tipo de câncer que afeta algumas células da medula. “Ele já faz tratamento quimioterápico há mais ou menos um ano, com indicação para o transplante. A expectativa é que a gente consiga melhorar a qualidade de vida dele, evitando que o paciente faça novas quimioterapias em um curto período de tempo. Até hoje, no mundo todo, o transplante autólogo para os pacientes de mieloma é a terapia padrão ouro a ser feita”.
Primeiros transplantes serão sem doadores
O hematologista João Saraiva explica que, em obediência à portaria do Ministério da Saúde (MS), o centro de transplante de medula óssea de Belém só tem autorização para realizar um tipo de transplante, chamado autólogo, que é quando o paciente é o seu próprio doador. A restrição deve durar por um período de seis meses a dois anos: “Após esse tempo, poderemos avançar para o transplante alogênico, que é aquele feito com a doação de medula de uma pessoa para a outra”.
O médico detalha as etapas de realização do primeiro transplante autólogo de medula óssea: “Primeiro, o paciente recebe uma medicação para que as células tronco saiam da medula óssea e caiam na corrente sanguínea. Nós coletamos essas células e, em seguida, elas são congeladas. O paciente, então, passará por quimioterapia expressiva, para destruir as células doentes, destruindo, em consequência, as células boas também. Em seguida, reintroduzimos as células que foram congeladas, o que caracteriza o transplante em si”.
Depois desse período o paciente transplantado ficará em observação, em total isolamento, para evitar possíveis infecções, uma vez que o processo diminui a imunidade do indivíduo. Por conta disso, João Saraiva explica que foi necessária a construção de uma estrutura hospitalar especial: “O hospital fez um andar só para o transplante, com 10 apartamentos, todos com filtros capazes de reter até 99% de todas as partículas, além de todos os quartos com pressão positiva, que é outra proteção contra infecções”.
Cadastros para doação de medula já podem ser feitos
Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) revelam que, apesar do Brasil ser o terceiro país no mundo em número de doadores, com 5.509.540 pessoas cadastradas no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), a chance de encontrar uma medula compatível é de uma em 100 mil. No Pará, apesar de haver 123.903 doadores cadastrados, 338 pessoas ainda aguardam por alguém compatível.
Para doar medula óssea, é preciso ter entre 18 e 55 anos de idade, estar em bom estado geral de saúde e não ter doença infecciosa transmissível pelo sangue. O interessado deve ir até o hemocentro mais próximo, assinar um Termo de Consentimento Livre, autorizando a realização do exame de compatibilidade.
Após cadastro e coleta de sangue, o resultado será examinado para as devidas identificações genéticas, que serão incluídas no Redome. As informações genéticas serão cruzadas com os dados dos pacientes e, quando houver alguém compatível, em qualquer lugar do Brasil ou do mundo, outros exames serão solicitados.
Em Belém, interessados podem entrar em contato com a Fundação Centro de Hematologia e Hemoterapia do Pará (Hemopa), que fica na Travessa Padre Eutíquio, nº 2109, bairro Batista Campos, e atende no número (91) 3110-6500.
Serviço:
Cadastro para doação de medula óssea
Hemopa: Travessa Padre Eutíquio, nº 2109, bairro Batista Campos.
Telefone: (91) 3110-6500
Fonte: Camila Guimarães/OLiberal