O Ministério Público Federal investiga ataques contra indígenas da etnia Turiwara no Pará. No sábado (24), uma pessoa foi morta a tiros em uma emboscada em Acará (PA), a 115 quilômetros de Belém. Neste domingo (25), um incêndio destruiu a casa cultural de uma aldeia. De acordo com o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), a região é palco de intensos conflitos envolvendo comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas e empresas produtoras de óleo de palma.
No sábado, um veículo com quatro pessoas foi alvejado por tiros disparados por homens que passaram em outro carro. Uma vítima morreu e três ficaram feridas. O ataque ocorreu no KM 16 da PA-252, próximo à Vila Socorro.
“Por pouco não fomos mortos, livramento de Deus mesmo”, disse um dos sobreviventes, Adenizio Turiwara, em vídeo divulgado pela candidata a deputada federal e secretária-geral do PSOL do Pará, Nice Tupinambá. “Nós abominamos essa tal prática de fazer Justiça com as próprias mãos.”
A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará diz que equipes das polícias Militar e Civil foram enviadas para a região logo após o ocorrido para reforçar a segurança e investigar o caso.
Cleozo Santos dos Santos, Antônio de Moraes Vieira Filho e Adenisio dos Santos Portilho ficaram feridos e foram transferidos para o Hospital Metropolitano, em Ananindeua. O morto será Clebson Portilho.
Moradores do local atribuem o crime a seguranças de uma empresa exploradora de dendê que está envolvida em disputas de terras na região.
INCÊNDIO
Neste domingo um incêndio destruiu a casa cultural da comunidade indígena Braço Grande, na vizinha Tomé-Açu. O espaço era usado como ponto de encontro para a realização de danças e ensino da cultura indígena para crianças.
O Ministério Público Federal diz que está apurando os dois casos e afirma que, segundo denunciantes, os crimes teriam sido cometidos por empresa exploradora de dendê envolvida em conflitos na região. Lideranças indígenas da região acusam a empresa BBF (Brasil Biofuels) pelos ataques. “De dez anos para cá, os únicos ataques que sofremos são dessa empresa”, diz o presidente da Associação Indígena Tembé de Tomé Açú, Paratê Tembé.
EMPRESA
Em nota, a empresa disse lamentar os atos de violência noticiados, mas nega “de forma veemente” ter ligação com o atentado. Ela afirma ainda que não possui veículos vermelhos, como o que foi usado pelos pistoleiros.
A Brasil Biofuels diz que uma das vítimas tem envolvimento com crimes na região e que a polícia encontrou “grande soma em dinheiro e arma de fogo” no veículo alvejado. A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do estado confirmou que havia R$ 100 mil e um revólver com as vítimas.
“A empresa reforça que entrará com medidas judiciais contra Paratê Tembé, que vem tentando associar de forma caluniosa o nome da BBF a esses fatos trágicos ocorridos nesta manhã, objetivando ações de terrorismo e vandalismo contra a empresa e seus funcionários”, afirmou.
Os índios Turiwara vivem na Terra Indígena Tembé, que ocupa uma área de mil hectares em Tomé-Açu. Segundo o Cimi, os dois povos reivindicam demarcação de área próxima à Terra Indígena Turé/Mariquita, também em Tomé-Açu. (Com informações de JR Avelar)
Fonte: FolhaPress/DOL