Ao mesmo tempo em que se aproximam as festas de final de ano, chegam também as chuvas mais frequentes ao longo do dia. O cenário de uma Belém de céu nublado, ruas molhadas e guarda-chuvas colorindo nas calçadas em dezembro já é característico do período popularmente conhecido como inverno amazônico. Mas o que será, afinal, o tal inverno amazônico?

Pode não parecer, mas o meteorologista da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), Hildo Giuseppe, aponta que, na realidade, o hemisfério sul do planeta está passando pelo verão nesta época de final de ano.

Do ponto de vista climatológico, os períodos de verão, inverno, outono e primavera são definidos a partir do movimento de translação que o planeta faz em relação ao sol. Logo, já há um período definido a partir desse movimento. “O verão no hemisfério Sul, por exemplo, vai iniciar agora no dia 22 de dezembro. Surge até uma confusão porque as pessoas se perguntam como vai ser verão, se na região amazônica chove além do normal?”, questiona

“Mesmo sendo verão no hemisfério Sul, é muito comum ter a ocorrência das chuvas nesse período entre dezembro até meados de maio na região amazônica. Aí vem a questão da característica da circulação atmosférica nessa região”, pontua.

O professor explica que, pelo fato de o hemisfério sul estar durante o verão, o movimento que a terra faz em relação ao sol deixa o hemisfério sul mais próximo do sol e isso reflete na quantidade de energia disponível. “Tendo mais energia disponível, você consegue formar fenômenos que provocam o aumento das chuvas nessa região. Basicamente, são fenômenos que são bastante conhecidos como a zona de convergência intertropical, que está bem mais próxima nesse período, na região amazônica, associada a outros fenômenos de escala local, como linhas de instabilidade, efeitos de brisas locais, enfim, uma série de outras características que são comuns nesse período na nossa região, fazendo com que se eleve a quantidade de chuvas. Mas, climatologicamente falando, a gente está passando pelo verão”.

Segundo explica Hildo Giuseppe, a climatologia não leva em consideração a quantidade de chuvas observada nesse período, mas sim o movimento de translação da terra. Com isso, do ponto de vista climatológico, o hemisfério sul da terra vai estar passando pelo verão, no entanto, esse será também o período em que mais se concentra a quantidade de chuvas na região amazônica, por isso chamado de inverno amazônico. “É popularmente conhecido como inverno amazônico por se caracterizar a maior incidência de chuvas nesse período, na nossa região. Não é incorreto falar que é o inverno amazônico porque, do ponto de vista de análise desses valores, cerca de 65% a 70% das chuvas se concentram nesse período que vai de dezembro a maio, aqui na região amazônica”.

Para além disso, a própria dimensão continental do Brasil faz com que, diferentemente da região amazônica, nas regiões Sul e Sudeste do país, por exemplo, esse período seja caracterizado pela menor incidência de chuvas, justamente pelo hemisfério sul da terra estar passando pelo verão.

“Essa questão da variabilidade climática é bem característica do nosso país mesmo. Vamos entrar no período do verão agora em dezembro, então, a região Sul do nosso país sente esse verão em si, é o período em que eles vão observar uma menor quantidade de chuvas porque, do ponto de vista climatológico, está ocorrendo isso mesmo”, considera.

“Outra questão é o padrão de circulação, que se modifica nesse período e aí não é propício a formar chuvas nessa região Sul do país, fica mais propícia a formação de chuvas na região amazônica. Além disso, tem outras características também, como a própria floresta amazônica, a quantidade de rios que nós possuímos aqui, associadas à grande quantidade de energia que está chegando nessa região. Então, tudo isso proporciona que sejam formadas essas nuvens de chuva que a gente vê na região amazônica e elas se concentram nesse período do início do ano, o que faz com que a gente chame de inverno amazônico”, finaliza.

Fonte: Cintia Magno/DOL