Você sabia que o Estado do Pará se tornou, nos últimos anos, o principal destaque no plantio, cultivo e produção de cacau, não só no Brasil, como no mundo? O reconhecimento veio graças ao empenho de muitas pessoas, em especial de uma família de descendentes de alemães que se instalaram, na década de 70, às margens da rodovia Transamazônica, em Uruará, no sudoeste paraense.
E anos de trabalho árduo e resiliente, aliado à inovação, foram recompensados, projetando o Pará a níveis nunca antes alcançados no mercado cacaueiro. Situada em uma propriedade de mais de 2 mil hectares, a Fazenda Panorama potencializou a região que hoje é conhecida como “Polo da Transamazônica”, englobando as cidades de Medicilândia, Pacajá, Anapu, Vitória do Xingu, Brasil Novo e Uruará.
Assim como em outros tipos de agricultura, a cadeia produtiva do cacau começa justamente no plantio e na colheita. Nesta fase, após o desenvolvimento das plantas em solo fértil e amadurecimento dos frutos, eles são colhidos pelos colaboradores da fazenda em um trabalho 100% manual.
O crescimento desta cadeia produtiva do cacau paraense traz grandes oportunidades e torna ainda maior o mercado de trabalho e emprego para os moradores da região onde a fazenda está instalada, proporcionando renda e sustento aos trabalhadores e seus familiares.
PRODUÇÃO DO CACAU SUSTENTA AGRICULTURA FAMILIAR
“Sem sombra de dúvidas o cacau é a cultura mais importante para o desenvolvimento regional no Pará, pois é cultivado majoritariamente pela agricultura familiar de pequeno e médio porte. O trabalho com o cacau é bem manual, emprega muitas pessoas e proporciona uma mobilidade social expressiva. Os ganhos para a economia paraense são exponenciais”, ressalta Helton Gutzeit, que comanda a área técnica da Fazenda Panorama.
Além disso, engana-se quem pensa que existem limites para esta cadeia produtiva. O cacau é um dos frutos mais valorizados na gastronomia e indústria mundial, com uma grande diversidade de usos para a produção de chocolates finos, manteigas e demais alimentos processados.
E o cacau produzido no Pará tem diferenciais que podem torná-lo uma verdadeira iguaria global, além de exemplo de manejo sustentável na Amazônia. “Nossas amêndoas possuem sabor que lembra frutas tropicais, cacau e um leve toque floral. As amêndoas da nossa região possuem um dos mais altos teores de manteiga, chegando a até 62%, o que é muito significativo”, expõe Helton.
“O cacau é a planta guardiã da Amazônia. Dentre as cadeias produtivas amazônicas, a cacauicultura é a que mais expressa os pilares da sustentabilidade”, explica, reforçando que a plantação de cacau é considerada por muitos uma forma de ação de reflorestamento para certas áreas desmatadas.
Helton afirma, ainda, que o fruto cultivado em terras paraenses abre margem para muitas outras possibilidades de uso da amêndoa pela indústria. “Quando se faz cacau de qualidade, novas portas se abrem para a verticalização de inúmeros outros produtos, muito além do chocolate, inclusive.”
Para que todo este potencial seja plenamente explorado, a Fazenda Panorama tem realizado investimentos para captação e capacitação de mão de obra qualificada, além de ter fundado a startup Qualitheo, que nasceu com a missão de aprimorar e investir no desenvolvimento regional da qualidade do cacau.
“Acreditamos que a extração de todo o potencial do cacau para a Amazônia só será realizada quando conseguirmos produzir frutos saudáveis em abundância, beneficiar as melhores amêndoas e agregar valor na cadeia produtiva para conquistar reconhecimento nos mercados de exportação”, conclui Helton.
HISTÓRIAS EM FAMÍLIA QUE INSPIRAM
A mãe de Helton, Elcy Gutzeit, filha dos fundadores da Fazenda Panorama, atuou na administração do negócio sozinha por mais de uma década. O tempo que passou chefiando a operação a transformou em uma das mulheres mais influentes e inspiradoras da região, rendendo-lhe do título de "Rainha do Cacau".
Hoje em dia, Elcy compartilha a admistração do negócio com o filho e a irmã Eunice Gutzeit, que atua como uma ponte de comércio entre a Amazônia, São Paulo e o exterior. Ela é a responsável pela exportação do cacau fino produzido na Fazenda Panorama para países na Europa, especialmente a Suíça, nação reconhecida mundialmente pela qualidade de seus chocolates.
Para estabelecer vínculos internacionais, Eunice estudou e se tornou fluente em seis línguas. Desta forma, ela tem atuado na apresentação do cacau fino paraense em feiras de chocolate sediadas em países como Bélgica, Alemanha, França, entre outros.
Apesar da projeção internacional de sua produção, Elcy revela que possui muito orgulho de ser paraense, nascida em Belém, e estar construindo uma história de conquistas e avanços, colaborando com o desenvolvimento do Pará. Ela também agradece ao Governo do Estado, que foi um importante parceiro no desenvolvimento agrícola local nos últimos anos.
"Eu admiro que o Governo do Pará se preocupa com o agro. Vemos que o governador Helder tem se empenhado em deixar o grande legado do desenvolvimento de uma agricultura sustentável no estado. Também vale mencionar a parceria do Banpará com o incentivo aos pequenos e médios produtores, pois trouxeram o banco mais próximo de nós, com a abertura da agência em Uruará, e favoreceram que nós possamos continuar plantando a boa semente", declara.
Assim como Elcy e Eunice, os irmãos Eliezer e Enoque Gutzeit também possuem operações no ramo da cacauicultura no estado. Ambos usam das mesmas estratégias e técnicas sustentáveis de produção de cacau vistas na Fazenda Panorama em suas propriedades.
Logo, como consequência das boas práticas, as fazendas Rio do Norte e Rouxinol também impactam a vida de centenas de trabalhadores da região e contribuem com o desenvolvimento da cadeia produtiva do cacau paraense.
Recentemente, apenas na fazenda Rouxinol, administrada por Enoque Gutzeit, de uma única vez, 5.300 novas mudas de cacaueiro enxertadas foram plantadas e a expectativa para o cultivo já é grande. "A primeira mudinha já ta vindo com uma florzinha, porque ela será a primeira a produzir aqui. E vai produzir muito!", enaltece Enoque.
Outra propriedade com ligações familiares dos Gutzeit é a Fazenda Bom Tempo, administrada por Helton há mais de 12 anos, e que conta com a parceria da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para o desenvolvimento de tecnologias para aprimorar o processo de fermentação do cacau.
Para Elcy, mãe de Helton, incentivar o filho desde cedo foi essencial para continuar o legado da família Gutzeit nesta geração. "Ele tem sido um exemplo para a nova geração, pois a maioria dos jovens não querem cuidar do legado da família. Se os jovens não tiverem incentivos para ficar no campo, o que será do agro em um futuro próximo? O agro precisa de nós, jovens e famílias, para que não falte alimento e nem chocolate para todos", opina.
A "Rainha do Cacau" ressalta, ainda, que sua projeção de futuro ideal é consolidar a cacauicultura do Pará como referência para o mundo. "O futuro que nós almejamos é plantar, cultivar e diversificar a produção, chegando a produtos finais de altíssima qualidade, como o chocolate, nibs, suco de cacau, entre outros, de forma a agregar valor ao trabalho feito em toda a região cacaueira paraense. Desta forma seremos imbatíveis e prósperos", comenta Elcy.
ENTENDA O CICLO DE PRODUÇÃO DO CACAU
Como dito anteriormente, a cadeia produtiva do cacau começa com o plantio e colheita pelos colaboradores, onde uma característica marcante dos frutos ideais se destaca: a coloração amarela dourada.
Após a colheita do cacau, os frutos são selecionados, separados e levados para a quebra da casca, tudo isso no mesmo dia, quando serão encaminhados para a fermentação, que acontece por sete dias em um local apropriado. Em todo o processo são adotadas medidas necessárias para a higiene e controle da qualidade das amêndoas.
Na etapa posterior à fermentação, ocorre a secagem à luz do sol em uma estufa. A todo momento, as amêndoas são reviradas e testes de quebra são feitos para saber se já estão completamente secas e dentro dos padrões de qualidade exigidos.
A partir daí, as amêndoas selecionadas já tomam seus destinos, seja para cacau bulk, usado para a produção de chocolates comuns na indústria, como para o cacau fino de aroma, que é utilizado para desenvolver chocolates de excelência e alto padrão, foco principal de negócio da Fazenda Panorama.
Em sua gama de produtos, a empresa também possui os nibs de cacau fino, que são as amêndoas trituradas, as quais podem ser destinadas para a produção de outros alimentos, suplementação alimentar, entre outras possibilidades.
HISTÓRIA DO CACAU NA TRANSAMAZÔNICA COMEÇA NOS 70
A Fazenda Panorama foi fundada pelo casal Ervino e Erna Gutzeit, dois imigrantes alemães que chegaram ao Brasil em meados do século XX. Ambos viviam no Espírito Santo e decidiram se mudar para o coração da Amazônia durante o período de expansão da região, entre o final da década de 60 e início de 70.
Já vivendo às margens da rodovia BR-230, considerada o maior projeto voltado para o desenvolvimento da Amazônia, que visava integrar toda a região por meio de uma estrada que cortava a floresta de leste a oeste, o casal Gutzeit fundou uma escola agrícola, seguida da abertura da Fazenda Panorama.
De início, ambos tinham o sonho de produzirem um cacau fino de alta qualidade, no entanto, dificuldades iniciais os fizeram ter outras prioridades momentâneas, mas nada que deixasse o desejo de lado.
Muitas décadas depois, em 2017, já após o nascimento de filhos e netos, os quais foram treinados e criados em meio à cultura do cacau e para a administração dos negócios da família, os Gutzeit alcançaram o sonho de Ervino e Erna: conseguiram realizar a fermentação de cacau fino, que naturalmente se tornou o principal produto da Fazenda Panorama, com expectativas de produção de 100 toneladas de cacau fino em 2023.
O reconhecimento veio logo na sequência. Em 2019, Elcy, filha de Ervino e Erna, e Helton Gutzeit, neto dos dois, levaram o cacau paraense a níveis internacionais ao se tornarem finalistas na 10ª edição do “International Cocoa Awards", competição global que reconhece o trabalho dos produtores de cacau ao redor do mundo e foi realizada em Paris, na França.
Fonte: Adams Mercês/DOL