Casos de meningite vêm crescendo no Pará e na capital nos últimos anos. Em 2021, o estado contabilizava 191 casos. No ano passado, saltou para 309 – um aumento de 61,7%. Em Belém, no mesmo intervalo de tempo, os diagnósticos subiram 37,7%, indo de 90 para 124. Na contramão desses aumentos, a taxa de cobertura vacinal vem caindo, o que preocupa autoridades. Por nota, a Secretaria de Estado de Saúde Pública do (Sespa) informa que, em 2022, a cobertura vacinal para a Meningo C foi de 67%. O esquema vacinal contra a doença consiste em uma dose aos três meses de vida, uma segunda dose aos cinco meses de vida e uma dose de reforço aos 12 meses de vida.
Em Belém, a cobertura vacinal contra meningite tipo C, referente aos imunizantes aplicados em menores de um ano de idade, caiu de 55,96% para 54,57%, taxas muito abaixo do ideal para que a população possa ser considerada protegida, que seria com 95%
A enfermeira da imunização da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), Lana Xantipa, atribui o aumento no número de casos justamente à baixa cobertura vacinal. “Essa cobertura não tem crescido como deveria. A procura pela vacina ainda é baixa. Assim, as pessoas ficam mais suscetíveis à doença”.
Testes de malária.
Pará teve mais de 21 mil casos de malária em 2022
Lana explica que, apesar de afetar diferentes faixas etárias, crianças menores de um ano – e até mesmo as menores de cinco – são as mais vulneráveis para meningite, uma vez que estão com o sistema imunológico ainda em desenvolvimento, por isso, é importante reforçar o cumprimento do esquema vacinal primário contra a doença.
As vacinas contra meningite fazem parte do esquema padrão de vacinação pela rede pública, sendo aplicadas em três doses: a primeira aos três meses de vida; a segunda aos cinco meses; e a terceira ao completar um ano.
“Essa é a vacina meningo C, que protege contra o sorotipo C da doença, transmitida por infecção bacteriana, um dos tipos mais graves. Mas a vacina também pode ser aplicada em adolescentes e adultos. Existem outros sorotipos, como o A, W e Y, que podem ser prevenidos pela vacinação com a vacina meningo ACWY, essa geralmente aplicada em adolescentes”, explica a enfermeira.
Lana conta que existe uma preocupação com a faixa etária da adolescência por serem transmissores em potencial do vírus ou bactéria causadora de meningite, bem como os profissionais de saúde, que precisam tomar cuidado para evitar a transmissão cruzada da doença dentro dos hospitais.
“Os adolescentes de 11 a 14 anos devem se vacinar contra a meningite para diminuir as chances de espalhamento da doença. Inclusive, até o dia 28 de fevereiro, a vacina segue disponível para todo mundo, a partir de 10 anos de idade, incluindo adultos e idosos, para que aumentar a imunidade da população à doença”, lembra Lana.
A enfermeira ressalva, apenas, que mulheres grávidas não podem tomar a vacina no momento, mas incentiva que pais de crianças menores de um ano sigam com o esquema vacinal primário e que responsáveis por crianças a partir de 10 anos procurem qualquer sala de vacinação de Belém, até o dia 28 de fevereiro para se imunizar, bem como adultos e idosos.
Em dia
George Reis, 34 anos, e Larissa Chagas, 35 anos, ambos analistas de sistemas, são pais da pequena Analice, de 9 meses de idade, e compareceram, nesta segunda-feira (30), a um posto de saúde no bairo da Pedreira, para vacinar a filhinha contra a febre amarela.
"Nós estamos muito atentos ao calendário vacinal dela; já fizemos, inclusive, a vacinação contra a meningite em julho e outubro; vacinar é fundamental para a prevenção a doenças", destacou Larissa. George observa que não se deve dar chance para doenças nos filhos, e, por isso, todos devem se vacinar. Gestores de órgãos públicos e profissionais de saúde enfatizam em campanhas e na mídia a importância da imunização de cidadãos em todas as faixas etárias contra doenças no Brasil.
Vacinação em Belém
A Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) informou que as doses que estavam disponíveis no município de Belém venceram no último dia 31. Por esse motivo, todas as doses foram recolhidas. “A solicitação de novas doses foi feita em tempo hábil, no entanto, a Sesma tem que respeitar a logística da rota de distribuição das doses. A vacinação contra meningite retornará ao normal assim que a Secretaria de Saúde do Estado do Pará (Sespa) fizer o repasse de novas doses, e isto está previsto para o dia 6 de fevereiro”, disse a pasta por meio de nota.
Por outro lado, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) informou que não há falta de vacina no Pará e que já disponibilizou novas doses do imunizante para Belém, que precisa fazer a retirada das vacinas na central de imunobiológicos do Estado. “A secretaria esclarece que os municípios são responsáveis pela aplicação e estratégia de vacinação”, diz a nota.
A Sespa comunicou também que a vacinação contra meningite está disponível o ano inteiro nas salas de vacinação e não somente durante os períodos de campanha. A pasta ainda recomenda que pais e responsáveis busquem os postos, munidos de cartões de vacinação, para imunizar as crianças que fazem parte do público alvo. “Por fim, a Sespa ressalta que o Ministério da Saúde estendeu a vacinação até o dia 28 de fevereiro, ou enquanto durar o estoque, para outros grupos a partir de 10 anos de idade e após essa data a dose será novamente aplicada somente de acordo com o calendário vacinal”, finaliza o comunicado.
Mais sobre meningite
O que é?
A meningite é uma inflamação das meninges, que são as três membranas que envolvem o cérebro e protegem o encéfalo, a medula espinhal e outras partes do sistema nervoso central. É causada, principalmente, por bactérias ou vírus, mas também pode ser provocada por fungos ou pelo bacilo de Koch, causador da tuberculose.
Quais os sintomas?
As meningites provocadas por vírus costumam ter sintomas semelhantes aos das gripes e resfriados: febre, dor de cabeça e falta de apetite, acrescidos de um pouco de rigidez da nuca e irritação.
Meningites bacterianas são mais graves e apresentam: febre alta, mal-estar, vômitos, dor forte de cabeça e no pescoço, dificuldade para encostar o queixo no peito e, às vezes, manchas vermelhas espalhadas pelo corpo.
Nos bebês pode-se também observar: moleira tensa ou elevada; gemido quando tocado; inquietação com choro agudo; rigidez corporal com movimentos involuntários, ou corpo “mole”, largado.
Como é o diagnóstico?
Ao ter sintomas suspeitos, deve-se procurar uma Unidade de Saúde. Uma equipe técnica deve ir até o paciente e coletar amostra de sangue para exame.
Como é o tratamento?
O tratamento é feito de acordo com o agente causador da infecção. Por vírus, podem ser utilizados antivirais e, por bactérias, tratamento com antibióticos, além de medicamentos para sintomas.
Quais as sequelas da doença?
Perda de audição e visão, problemas de memória e aprendizagem, amputação de membros, epilepsia e paralisia cerebral.
O que fazer em caso suspeito?
Se ainda não diagnosticado, é ideal que a pessoa fique em isolamento, semelhante ao orientado em caso de covid-19, para evitar a transmissão. Quando confirmado, o paciente deve seguir as orientações médicas, a depender do caso, com internação.
Fonte: Camila Guimarães/OLiberal