Manchas, caroços, feridas que não cicatrizam e lesões com crescimento progressivo são alguns dos sinais de que a saúde do pênis pode estar ameaçada por um câncer. Quando surge, a proliferação de células tumorais tende a infiltrar-se em outras regiões do corpo e pode levar o paciente a óbito. A avaliação médica e a biópsia são fundamentais para diagnosticar precocemente a doença, que ainda é uma das principais causas de amputação da genitália masculina no Brasil. Em 2022, foram registrados, de janeiro a novembro, 1.933 casos de câncer de pênis no país e 459 amputações do órgão, segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/Datasus) do Ministério da Saúde.
De acordo com os especialistas da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), o câncer de pênis é um dos mais preveníveis, pois pode ser evitado com, dentre outras medidas, a higiene correta do órgão genital. Ainda assim, o Brasil é um dos países com maior incidência de neoplasia peniana do mundo. A doença representa cerca de 2% dos cânceres diagnosticados em homens no País, que registra maiores índices dessa enfermidade nas regiões Norte e Nordeste.
“A incidência de câncer de pênis em países desenvolvidos é ínfima, por que é uma doença constantemente associada a questões educativas, de higiene e a áreas com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). É um câncer grave que, se não for detectado precocemente, pode levar a consequências drásticas para o paciente, como mutilações e até mesmo o óbito”, ressalta Luis Otávio Pinto, urologista do Hospital Ophir Loyola.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) pondera que, além da má higiene, o surgimento da doença pode estar associado ao Papilomavírus Humano (HPV), vírus sexualmente transmissível que infecta a pele e a musosa oral, vaginal ou anal, em relações sexuais desprotegidas. O estreitamento do prepúcio, mais conhecido como fimose, favorece o acúmulo de resíduos na glande e também pode ocasionar o surgimento da neoplasia.
Atenção - A detecção precoce contribui para o sucesso do tratamento e reduz o risco de amputação, realizada em casos mais graves. Além da abordagem cirúrgica, pacientes podem ser submetidos a sessões de quimioterapia ou radioterapia, mais utilizadas em casos de recidivas ou sob cuidados paliativos.
“A detecção da lesão na fase inicial é fundamental para que consigamos propor ao paciente um procedimento poupador que, sem dúvida, é a melhor opção, pois dá dignidade e melhor qualidade de vida. Afinal, pacientes que chegam com doença avançada e que são submetidos a amputações mais ‘aprofundadas’ ficam abalados com o fato de se encararem como um ‘homem sem pênis’”, afirma Luis Otávio.
“Ainda assim, para esses casos mais graves, nossa equipe multidisciplinar atenta a abordagem humanizada desse paciente desde a entrada ao hospital até nos acompanhamentos periódicos, que visam o resgate da autoestima. A família tem papel fundamental nesse processo de acolhimento”, completou o especialista.
Em casos em que a intervenção cirúrgica é indicada, o HOL, referência em tratamento oncológico de alta complexidade, conta com equipe especializada em cirurgias poupadoras de pênis. A técnica consiste em manter, ao máximo, a aparência, a função sexual da genitália e a capacidade do paciente urinar de pé, amenizando impactos físicos, sexuais e psicológicos.
Para o médico Luís Otávio, especialista em cirurgias poupadoras no HOL, em casos muito avançados, a retirada do pênis é inevitável, pois evita que o câncer se alastre para outras regiões, elevando o risco de morte. Logo, quando mais cedo a doença é descoberta, menores são as chances de amputação e óbito. O Hospital já realizou 34 cirurgias com essa metodologia, a maior casuística de um único serviço no Brasil e uma das maiores do mundo.
A urologia reconstrutora é uma especialidade que envolve, por exemplo, as cirurgias de readequação sexual, malformações congênitas e, mais recentemente, a poupadora de pênis. “A técnica representa um enorme ganho para homens com câncer peniano, pois pode curar com efeitos menos traumáticos. Para realizarmos o procedimento poupador, a doença deve estar limitada, porém, observamos que muitos pacientes ainda têm dificuldade de buscar ajuda com um especialista para que seja feita a avaliação e a biópsia em tempo hábil. E quando decidem superar os medos, chegam ao serviço com doença avançada e sem a indicação da cirurgia”, disse.
Embora seja mais incidente em homens acima dos 50 anos, homens mais jovens podem ser acometidos pela neoplasia que, se diagnosticada em estágio inicial, apresenta elevada taxa de cura. Por isso, especialistas do HOL recomendam que ao notarem lesões ou tumorações na genitália, os homens procurem ajuda médica o quanto antes.
“O diagnóstico precoce é fundamental para a preservação do pênis. Antigamente, as amputações eram muito dramáticas, com a retirada do órgão na sua totalidade. Mas, com o surgimento das cirurgias poupadoras de pênis, aumentamos a possibilidade de cirurgias menos agressivas e com menor chance de complicações para o paciente. Com esse recurso, deixamos o pênis mais próximo possível do que era antes, desde o tamanho até a funcionalidade. Queremos que, após a resecção, o paciente consiga, por exemplo, urinar em pé e ter atos sexuais satisfatórios, inclusive com orgasmos”, afirmou o urologista.
Água e sabonete são aliados na saúde peniana, pois evitam o acúmulo de secreções, que podem causar a proliferação de bactérias e gerar processos inflamatórios crônicos. Recomenda-se a limpeza diária, com enxágue e secagem, sobretudo após a masturbação e relações sexuais. A cirurgia de postectomia, que consiste na retirada do excesso de pele que recobre o pênis e dificulta a higiene da glande, e a vacinação contra o HPV também figuram entre os fatores de prevenção.
Sinais e sintomas do câncer de pênis
Feridas ou úlceras persistentes, bem como tumores na glande, prepúcio ou corpo do pênis, são manifestações clínicas mais comuns desse tipo de câncer. Secreções com odor forte, mudanças na cor da genitália e a identificação de caroços na região da virilha também são alertas de progressão da doença. Um urologista pode avaliar e, após exames e biópsia, descartar a doença que, se não tratada em tempo hábil, resultará na amputação parcial ou total do órgão.
Diagnóstico do câncer de pênis
Em casos suspeitos, o diagnóstico será dado por meio de biópsia (exame feito a partir da coleta e análise de um fragmento do tecido), que determinará se são lesões benignas, pré-cancerosas ou malignas. O alcance e a profundidade das lesões podem ser observadas com exames de ressonância magnética ou tomografia computadorizada, que devem ser indicadas pelo profissional especializado que acompanha o caso.
Formas de Tratamento do câncer de pênis
A remoção cirúrgica da lesão peniana é o recurso terapêutico mais utilizado pelos especialistas, pois tem intenção curativa. O procedimento pode, inclusive, ser indicado para casos de metástase nos gânglios linfáticos na região da virilha. A depender do caso e da gravidade, o especialista pode recomendar sessões de radioterapia ou quimioterapia, por sua vez, mais utilizadas para pacientes em cuidados paliativos ou com recidiva.
Fonte: Agência Pará