Com o segundo maior rebanho bovino do país, atrás apenas do Mato Grosso, o Pará tem se destacado no mercado brasileiro e até internacional quando se fala na criação de gado. A criação de bois no Estado cresceu 23,5% na última década, passando de 20,5 milhões de cabeças em 2013 para 25,4 milhões em 2023, segundo dados do Núcleo de Planejamento e Estatísticas (Nuplan) da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuária e da Pesca (Sedap), enviados pela Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa) à reportagem do Grupo Liberal.
Outra produção que tem se destacado no Estado é a de bubalinos. De acordo com o levantamento, embora a população seja menor que a de bovinos, a alta neste caso foi mais expressiva nos últimos dez anos, de 43,27%, considerando que, em 2013, o rebanho somava 480,5 mil búfalos e passou para 688,4 mil em 2023. Juntas, as duas culturas atingiram 26,1 milhões de cabeças no ano passado, ante as 21 milhões registradas uma década atrás, o que representa um reajuste de 23,95% no período.
O zootecnista e diretor técnico da Faepa, Guilherme Minssen, explica que, nos últimos dez anos, tanto o rebanho de bovinos quanto o de bubalinos cresceu em número e em qualidade. A produção, hoje, é feita em maior escala, mas em menor área e em menos tempo, e com um ambiente equilibrado. “O produtor paraense não só adotou esse conceito, mas virou exemplo para vários outros lugares. Quando falamos em bubalinos, é um crescimento extraordinário, eles têm um apelo muito grande por causa do arquipélago marajoara”, afirma.
Desenvolvimento
Além do aumento numérico do rebanho, entre os principais indicadores de desenvolvimento do setor pecuário no Estado estão os laticínios, que, conforme Minssen, incluem hoje um leite de melhor qualidade e, principalmente, com uma frequência boa, quando se fala de bubalinos. Mas, ele destaca que o principal indicador de desenvolvimento é na parte dos frigoríficos. “Nós temos modernos frigoríficos e eles atentam para a melhoria do rebanho através desses índices”.
Com um rebanho maior e mais desfrute dessa criação, Guilherme menciona que o Pará busca, hoje, a precocidade, incluindo abates com 20 a 24 meses; antes, principalmente no arquipélago marajoara e no Baixo Amazonas, os animais eram abatidos com cinco a seis anos de idade. A mudança, segundo ele, garante a melhor qualidade da carne, com melhor marmoreio, mais maciez, com qualidade genética, cruzamento industrial e com todas as etapas reprodutivas via inseminação artificial, tornando o rebanho paraense um exemplo em tecnologia dentro do cenário nacional.
Bubalinos
Destaque no Pará, há alguns fatores que contribuíram para o crescimento local do rebanho de bubalinos. O presidente da Associação Paraense dos Criadores de Búfalos (APCB), João Melo Rocha, diz que um deles é a eficiência do rebanho. Além disso, cita que também contribuíram as tecnologias, implementadas com manejo adequado. Tudo isso, de acordo com ele, aumenta a população e o peso da cultura, a partir de técnicas eficientes.
João afirma que a bubalinocultura tem avançado com a inseminação artificial praticada em larga escala, no Marajó e no Baixo Amazonas. Outra técnica divulgada, porém mais restrita, detalha, é a transferência de embriões, a FIV. “É uma técnica que começa a dar resultados na bubalinocultura e já temos produção nascida no Pará. As primeiras já foram feitas no Marajó com resultados. É uma técnica muito usada nos bovinos”, menciona.
No entanto, o mercado anda instável, segundo João, e isso se torna um desafio para o setor de bubalinos. “Estamos em um ciclo de baixa na pecuária, a venda de gado é muito complicada, o mercado está inchado quando falamos de carne”. Por outro lado, em relação ao leite, o segmento está no que o presidente chama de “plena ascensão”, com uma grande valorização nos últimos dois anos; o litro do leite de búfalo, por exemplo, passou de R$ 2,70 para R$ 4, segundo ele.
“O leite do búfalo é de alta qualidade e houve o aparecimento de queijarias, isso ajuda muito. O Pará começou a produzir agora vários laticínios, como burrata e mussarela de búfalo, que é um dos produtos mais nobres da bubalinocultura e tem preços bem incentivadores. Os derivados do leite também, como iogurte. O queijo do Marajó, inclusive, conquistou uma Indicação Geográfica (IG), reconhecida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
Impacto
A bubalinocultura gera um impacto socioeconômico positivo para as comunidades locais no Pará, especialmente nas regiões onde é mais predominante. Um dos principais destaques dessa produção, de acordo com João Melo Rocha, é que os búfalos tendem a ser criados, principalmente, por pequenos produtores. Eles representam 70% do total, sendo que a soma dos grandes produtores é de apenas 1%; o restante são médios produtores. “É um agregador econômico, os criadores estão em regiões com os piores IDHs [Índice de Desenvolvimento Humano] do Brasil, como é o caso do Marajó”.
O fomento da cadeia também vem da atuação da APCB, que fomenta relacionamentos comerciais em feiras, leilões e está presente apoiando a divulgação da bubalinocultura no Estado. No dia 20 de abril, por exemplo, haverá um leilão no setor, no Marajó. “A entidade ainda ajuda a organizar a cadeia com a produção de leite na Ilha do Marajó para aumentar a produção, que é muito interessante. Estamos tentando levantar a produção porque não estamos conseguindo atender. Em Cachoeira, Salvaterra e Soure temos um déficit de 4 mil litros de leite diário durante a safra. Fazemos reuniões, cursos técnicos e acompanhamos os criadores nos municípios”, destaca o presidente da Associação.
Febre aftosa
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) publicou, no dia 25 de março, uma portaria que reconhece nacionalmente como livres de febre aftosa sem vacinação o Pará e mais 15 estados e o Distrito Federal. Para o zootecnista e diretor da Faepa, Guilherme Minssen, este foi o primeiro desafio enfrentado e mostra o avanço que o setor teve, com conquistas sanitárias “muito importantes”.
“O reconhecimento do Pará livre de febre aftosa traz para nós um avanço inegável para os produtores rurais e o trabalho que eles fizeram. Os esforços começaram na década de 1980, são as tradicionais vitórias que nós tivemos, junto à Federação da Agricultura, e depois também o desenvolvimento de uma agência do Estado, que hoje é a Adepará. Sete produtores liderados pela Faepa, por meio do Carlos Xavier, iniciaram a campanha de levar o Pará a outro patamar dentro do aspecto sanitário”, lembra o diretor.
Segundo o Mapa, o processo de transição de zonas livres de febre aftosa com vacinação para livre sem vacinação está previsto no Plano Estratégico do Plano Nacional de Vigilância para a Febre Aftosa (PE-PNEFA). A meta é que o Brasil se torne totalmente livre de febre aftosa sem vacinação até 2026.
Para realizar a transição de status sanitário, os estados e o Distrito Federal atenderam aos critérios definidos no Plano Estratégico, que está alinhado com as diretrizes do Código Terrestre da OMSA. Já para a conquista do reconhecimento internacional, a Organização exige a suspensão da vacinação contra a febre aftosa e a proibição de ingresso de animais vacinados nos estados e regiões propostas por, pelo menos, 12 meses.
O reconhecimento como sem vacinação abre caminhos para que os produtos pecuários oriundos destes Estados possam acessar os mercados mais exigentes do mundo, segundo a Pasta. Atualmente, no Brasil, somente os estados de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Acre, Rondônia e partes do Amazonas e do Mato Grosso têm o reconhecimento internacional de zona livre de febre aftosa sem vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).
O passo agora, segundo Minssen, é redobrar a fiscalização e os trabalhos. “Precisamos consolidar essa área livre que nós vamos conquistar nesse momento. E outros desafios continuam os mesmos: o da logística, em que nós temos uma frequência maior nos nossos embarques de boi-vivo e precisamos ter um porto mais eficiente para isso”. João Rocha concorda: é preciso, para ele, aumentar o rebanho de forma mais acelerada e escoar melhor a produção.
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Fonte: Elisa Vaz/OLiberal