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Doença de Chagas: casos sobem 48,42% em um ano no Pará, constata Sespa

Publicada em 15/04/24 às 11:22h - 17 visualizações

por Rádio Nativa FM 92.5 Irituia


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 (Foto: Rádio Nativa FM 92.5 Irituia)

Em 2022, foram registrados 349 casos de Doença de Chagas no Pará, seguidos de 518 casos em 2023, indicando um aumento de 48,42%, e 45 casos no primeiro trimestre de 2024. Esses números, levantados pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), expressam a gravidade dessa doença, cujo Dia Mundial de Combate transcorre neste domingo, 14 de abril. Em Belém, de 34 casos em 2022 a incidência subiu para 41 em 2023, com 20.58% de elevação. Instituída em 25 de maio de 2019, durante a 72ª Assembleia Mundial da Saúde (AMS), promovida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), essa data serve para chamar a atenção dos indivíduos no mundo para uma das enfermidades mais negligenciadas no planeta.

E não é para menos, ela atua de forma silenciosa e pode provocar danos graves à saúde.  A Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma) informa que, em 2024, não há registro de casos confirmados da doença aguda (DCA) no município. No entanto, em 2023, foram confirmados 41 casos, com a identificação de nove surtos em diferentes bairros da capital e registro de dois óbitos. Em 2022, foram confirmados 34 casos, com registro de uma morte. O número de casos confirmados está dentro do esperado no que se refere à média histórica pré-pandemia para a capital, aponta a Sesma.

 

Combate 

Na prevenção e combate a essa doença, a Sespa promove treinamentos para profissionais de saúde, ações preventivas de higienização de alimentos, eventos de discussão de políticas em parceria com outros órgãos e monirotamento dos casos. 

Já a Sesma realiza ações educativas em áreas com registro da doença, orientando a população sobre como identificar o Barbeiro - vetor da doença -, sinais/sintomas e quando buscar assistência médica. Ao confirmar casos, a Sesma testa as pessoas que residem com o paciente. Também é feita busca ativa de casos sintomáticos na vizinhança. Os pacientes são encaminhados para o tratamento via Sistema Único de Saúde (SUS). A Sesma inspeciona a manipulação do açaí - existem mais de 1.000 estabelecimentos cadastrados. São feitas capacitações de manipuladores desse fruto - foram mais de 500 capacitados em 2023. Como alerta a Secretaria, a Doença de Chagas é uma enfermidade sazonal, que tem maior registro entre os meses de junho e novembro na região amazônica, principalmente por via oral, com o consumo de alimentos contaminados.

 

Silenciosa 

Essa enfermidade, como frisa o médico infectologista Alessandre Guimarães, presidente da Sociedade Paraense de Infectologia (SPI), é uma doença negligenciada. Isso porque existe em todo o mundo, mas ainda é uma doença que poucos conhecem, embora afete milhões de pessoas, com mais de 6 milhões de casos já diagnosticados. A maior parte dos casos de doença de Chagas se concentram na América Latina, como diz o  médico.

A doença tem uma fase aguda (inicial), com sintomas semelhantes aos de outras doenças, como a dengue, envolvendo febre, dor no corpo e de cabeça e outros, e uma fase crônica, com sintomas já decorrentes de quadros crônicos graves, principalmente cardiovasculares (miocardite, arritmias, insuficiência cardíaca e eventos tromboembólicos) e digestivos. “É uma doença silenciosa e silenciada, por cursar na maior do tempo com poucos sintomas, depois, se tornam graves, e pelo aspecto de se ter poucas oportunidades de diagnóstico (inexistência de testes rápidos) e pouco “pensada” nas consultas em geral”, ressalta. Daí, a importância de se fechar  o diagnóstico do paciente.

A transmissão ocorre por duas maneiras: contato direto com o agente causal, o parasita Trypanossoma cruzi, ao ser depositado no corpo humano pelo vetor conhecido como Barbeiro (Triatomíneo), inseto muito comum na Amazônia. O inseto deposita as fezes dele com o parasita na pele de uma pessoa e, com o hábito de se coçar, o trypanossoma acaba entrando no organismo do indivíduo. Uma segunda forma é por via digestiva, ou seja, por exemplo, pelo consumo do açaí, sem as etapas de tratamento do produto, em que o inseto vetor da doença é triturado ao fruto e acaba sendo engolido pelo indivíduo. 

O tratamento da doença se dá por meio de medicamentos antiparasitários, durante período prolongado. Na prevenção, deve-se evitar que o inseto adentre as casas; evitar o desmatamento da floresta; usar mosquiteiros, tecelagem, inseticidas; consumir alimentos em locais certificados pela Vigilância Sanitária do município (como o açaí e caldo de cana). 

A Doença de Chagas deixa sequelas nas pessoas, "sobretudo, quando diagnosticada tardiamente, quando o indivíduo já tem acometimento cardíaco e/ou digestivo, fase relacionada à doença chagásica crônica", como destaca Alessandre Guimarães. 

 

Pesquisas 

Em 1969, o Instituto Evandro Chagas (IEC) iniciou de forma pioneira na Amazônia as pesquisas sobre a Doença de Chagas, e desde então atua em três frentes: pesquisa, vigilância sanitária e assistência diagnóstica. Há várias formas de transmissão da doença, mas a transmissão vetorial (a partir do Barbeiro) é a principal. 

Pesquisadora Ana Yecê, do IEC: cuidados no preparo e consumo do açaí ()

Na transmissão oral, os cuidados básicos são com o açaí, porque ribeirinhos em geral têm nesse fruto seu principal alimento e, muitas vezes, não tratam do produto com o devido cuidado, facilitando a contaminação, como repassa a médica infectologista Ana Yecê Pinto, pesquisadora do IEC.

"Nós orientamos as pessoas a limpar bem, lavar bem a máquina de bater o açaí", destaca Ana Yecê. Ela observa que mitas outras doenças podem ser transmitidas por via alimentar. A pesquisadora recomenda que não se dever roer caroço de açaí, porque ele pode estar com a urina da mucura. Nesta terça-feira (16), o IEC promoverá uma roda de conversa sobre esse tema, na sede de Ananindeua.

 

Fonte: Eduardo Rocha/OLiberal




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