O mel de abelhas africanizadas (Apis mellifera L.), produzido a partir da florada do açaizeiro, demonstrou ter elevados níveis de compostos bioativos derivados da palmeira amazônica com propriedades anti-inflamatórias, anticancerígenas e cardioprotetoras. A pesquisa é resultado da análise e comparação de méis com origens em diferentes regiões do País e foi publicada na revista científica Molecules. O estudo foi desenvolvido por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
De acordo com informações da Embrapa, essas substâncias desempenham um papel importante na promoção e manutenção da saúde humana. As análises apontaram que o mel de açaí possui uma alta capacidade antioxidante. Entre as amostras analisadas, o mel monofloral da palmeira amazônica apresentou uma capacidade quatro vezes maior que a do mel de aroeira nessa avaliação.
“Isso sugere que os méis compostos predominantemente da florada do açaizeiro têm uma capacidade antioxidante mais forte, provavelmente devido a maiores concentrações de polifenóis e outros compostos bioativos”, afirmam os autores. Nilton Muto, professor da UFPA e coautor do estudo, explica que os compostos bioativos, como os polifenóis presentes no mel de açaí, são substâncias encontradas em alimentos que, embora não sejam nutrientes essenciais (como vitaminas ou minerais), podem oferecer benefícios à saúde.
Propriedades
Esses compostos ocorrem naturalmente em pequenas quantidades em plantas e animais, influenciando funções biológicas e processos metabólicos no organismo. “Os polifenóis são uma classe de compostos bioativos e atuam como antioxidantes, neutralizando os radicais livres, e podem ter propriedades anti-inflamatórias, anticancerígenas e cardioprotetoras”, afirma Muto.
Para que um mel seja classificado como monofloral, ele deve ter sua origem predominantemente no néctar das flores de uma única espécie vegetal. A legislação brasileira estabelece que, para essa classificação, é necessário que mais de 45% do pólen presente em uma amostra de mel seja de uma única espécie.
Essa predominância de uma florada confere ao mel características únicas de sabor, aroma e cor, além de propriedades funcionais específicas. No caso do mel de açaí, amostras coletadas nos municípios de Breu Branco e Santa Maria, no Pará, foram analisadas e comparadas com méis monoflorais de quatro outras origens: mel de aroeira (Minas Gerais), mel de cipó-uva (Distrito Federal), mel de Timbó (Rio Grande do Sul) e mel do mangue (Pará).
Segundo Daniel Santiago, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental e um dos autores do estudo, a escolha desses méis para comparação se deveu às suas reconhecidas propriedades funcionais e à presença de compostos bioativos, destacando-se o mel de aroeira, um dos mais valorizados no Brasil.
Bioativos
De acordo com a literatura científica, uma maior concentração de compostos bioativos está relacionada a um tom mais escuro do mel. Essa característica foi observada nas amostras de méis de açaí, que variaram de âmbar a âmbar escuro. Muto esclarece que outros fatores também podem contribuir para a coloração escura do mel, como os processos de desumidificação e a maturação do produto: “No caso do mel de açaí, ele fica escuro, quase totalmente negro, o que acaba se tornando um atrativo para o produto”.
Em relação ao sabor, o professor menciona que o mel de açaí foi bem avaliado por grupos de voluntários e analistas sensoriais. O produto não é tão doce quanto outros tipos de mel e apresenta notas de café. “É um mel diferenciado. Acredito que será muito bem aceito pelo público em geral e facilmente incorporável na gastronomia”, destaca o professor.
As análises também confirmaram a presença de diversos compostos bioativos associados, segundo a literatura científica, a propriedades anti-inflamatórias, antibacterianas, antimicrobianas e antitumorais no mel de açaí. De acordo com Muto, a investigação dessas capacidades já está sendo alvo de outras pesquisas em andamento.
Fonte: OLiberal