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Pesquisa revela potencial terapêutico do mel de açaí e a biodiversidade amazônica

Publicada em 29/10/24 às 10:41h - 21 visualizações

por Rádio Nativa FM 92.5 Irituia


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 (Foto: Rádio Nativa FM 92.5 Irituia)

Além de ser um fruto que faz parte da alimentação dos paraenses, o açaí também possui propriedades benéficas para a saúde. O mel produzido pelas abelhas a partir da florada do açaizeiro apresenta altos níveis de compostos com ação antioxidantes, por exemplo. O estudo, desenvolvido por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), revela que o fruto também contém polifenóis e outros compostos bioativos que o diferenciam de méis tradicionais encontrados no mercado, destacando a diversidade biológica da região.

O artigo, intitulado "Evaluation of the Bioactive Compounds of Apis mellifera Honey Obtained from the Açai (Euterpe oleracea) Floral Nectar", foi publicado na revista científica Molecules. A pesquisa, iniciada em 2021, surgiu após a observação de que abelhas envolvidas na polinização das flores do açaí produziam um mel diferenciado. 

Foram analisadas amostras de méis coletadas nos municípios de Breu Branco e Santa Maria, que foram comparadas com méis monoflorais de quatro origens: mel de aroeira, de Minas Gerais; mel de cipó-uva, do Distrito Federal; mel de timbó, do Rio Grande do Sul; e mel do mangue, do Pará. Após a coleta pelos apicultores, a composição do mel foi analisada por pesquisadores da UFPA no Parque de Ciência e Tecnologia Guamá (PCT-Guamá).

A pesquisa também chama atenção para a importância da preservação da biodiversidade da Amazônia, destacando o papel crucial das abelhas como polinizadoras e intermediárias no desenvolvimento sustentável de novos produtos. De acordo com um dos autores da pesquisa, o professor Nilson Muto, da UFPA , o estudo do mel de açaí reforça a relevância da conservação de espécies nativas e do desenvolvimento de tecnologias que valorizem a biodiversidade da região. Segundo Muto, "explorar a biodiversidade de maneira sustentável é fundamental para trazer novos produtos sem degradar o ambiente".

“O açaí é um fruto era um produto que, antigamente, era muito barato. E por ser pouco valorizado, tinha uma uma demanda baixa. Então, quando o açaí começou a ser observado como um produto inovador e trazer benefícios à saúde e comprovar essa estrutura, o açaí começou a se tornar um bem de consumo muito valorizado. E toda uma cadeia produtiva do açaí em resposta a isso foi desenvolvida. Hoje, no Estado nós temos a maior produção mundial de Açaí, sendo exportado tanto para o Brasil quanto para posterior e isso desenvolveu a economia de muitas populações de e muitos produtores”, analisa Muto 

 

Produção

O pesquisador Daniel Santiago, da Embrapa Amazônia Oriental e um dos autores da pesquisa, detalha a relação das abelhas com a planta e a eficácia dos méis. “As abelhas são uma ferramenta tecnológica que pode ser utilizada como insumo, assim como a adubação, a irrigação e o espaçamento entre plantas para aumento da produtividade. As melhores espécies ou validadas cientificamente são as de abelhas sociais nativas”, frisa.

Uma estratégia adotada por produtores de açaí para promover a polinização dirigida é a criação de abelhas da espécie Apis mellifera, popularmente conhecidas como africanizadas, resultantes do cruzamento entre raças europeias e africanas. Embora sejam maiores que as abelhas nativas, o que dificulta o contato com as flores pequenas do açaí, essas abelhas tendem a visitar com mais frequência as flores masculinas do que as femininas. “Ainda assim, as abelhas africanizadas possuem um raio de ação maior, que pode chegar a 1.500 metros, o que favorece que sejam colocadas nas bordas dos cultivos”, pontua Muto.

 

Saúde

Muto explica, ainda como surgiu a pesquisa. "Notamos que durante o processo de polinização, as abelhas, ao coletarem o néctar floral, produziam um mel diferenciado, com características da florada de açaí e apresentando uma coloração mais escura e com um sabor diferenciado", comenta Muto, ao pontuar que o mel possui propriedades funcionais específicas. E, assim, as análises revelaram que o mel de açaí possui elevada capacidade anti-inflamatória, antibacteriana, antimicrobiana e antitumoral.

Outra constatação é que o mel monofloral da palmeira amazônica superou em quatro vezes o mel de aroeira com relação à capacidade antioxidante. “O mel de açaí, quando a gente começa a investigar as propriedades, de maneira surpreendente, apresentou quantidade de polifenóis, antioxidantes e compostos bioativos em maior quantidade e mais intensos do que os méis convencionais, que são aqueles comprados no supermercado ou até em lojas especializadas”, destaca Nilton.

A mestranda em Biotecnologia Jéssica Araújo, participante da pesquisa, destaca a importância do estudo como um precursor de alternativas para a Medicina. O mel já é muito utilizado pelos ancestrais para cicatrização de feridas, justamente pela sua propriedade antimicrobiana e antioxidante. Então, talvez isso possa ser uma aplicação futuramente, a partir do mel de açaí". 

 

Cadeia produtiva

Segundo Muto, “esse produto novo pode agregar muito valor à cadeia produtiva da Amazônia, tanto pela sua qualidade diferenciada quanto pelas suas propriedades terapêuticas”. Ele ainda menciona que o mel, assim como o fruto do açaí, possui compostos bioativos que podem ser explorados de forma eficaz na indústria farmacêutica. E, com os resultados promissores, a expectativa é que o mel de açaí também seja utilizado em tratamentos medicinais em um período de médio a curto prazo, segundo reforça o pesquisador.

Entretanto, apesar dos resultados promissores, ainda há um caminho a ser percorrido até que o mel de açaí possa ser amplamente comercializado como um produto terapêutico. Antes de chegar ao uso humano, o produto precisa passar por diversas fases de testes, conforme observa Nilton: "Temos estudos em andamento com resultados esperançosos. Nesse caso, testamos o produto, verificamos se existe algum benefício, depois testamos em animais, averiguando a toxicidade e eficácia. E, em seguida, em seres humanos com ensaios pré-clínicos e clínicos, verificando as ações".

 

Fonte: Gabriel Pires/OLiberal




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