O Pará precisa de pelo menos R$ bilhões de investimentos para prevenção e tratamento do câncer, como projeta o diretor-geral do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Roberto de Almeida Gil, em entrevista ao Grupo Liberal durante o segundo dia da 6ª edição do Global Fórum Fronteiras da Saúde 2024, nesta quarta-feira (27), em Brasília (DF). Além disso, ele também detalhou que, a nível nacional, atualmente, somente 2% do orçamento federal é destinado para os cuidados oncológicos.
Segundo o gestor da entidade, o Pará necessita ainda de mais investimentos devido ao vazio assistencial percebido em diversas áreas da região Norte. “Temos uma média de 2,2% do orçamento em saúde investidos em oncologia [no País]. E, no Pará, como se tem um vazio assistencial muito maior, provavelmente seria o dobro disso. Num estado daquele tamanho, hoje seria muito maior para se fazer tudo isso, porque é muito mais difícil ter um lugar tão grande com tão poucos postos construídos”, avalia.
“A oncologia, não somente no Pará, é subdimensionada pela importância epidemiológica que ela tem. Temos uma população que envelhece e o número de casos aumenta. Temos mais doenças crônicas não transmissíveis. E, com isso, precisa alocar mais recursos. A oncologia precisa ser melhor financiada. Por outro lado, têm-se visto investimentos. Teve a construção de um parque tecnológico no Hospital Ophir Loyola, que tem dois aparelhos de última geração em radioterapia”, afirma.
Investimento
O diretor do Inca também detalha que maiores investimentos são essenciais para alocar mais ações de prevenção e tratamento contra os mais diversos tipos de câncer. Junto da região Nordeste, o Norte ainda é um dos locais mais desafiadores. “A gente precisa de um financiamento diferenciado na Amazônia. O recurso tem que ser um pouco maior, porque tem uma necessidade de implementação [de serviços]. É um fator atrativo também para que se tenha mais profissionais nesses locais”, comenta.
Além disso, o economista Edson Araújo também detalhou que, de acordo com pesquisas, o Norte tem o maior custo médio do país com gastos relacionados ao câncer. E ele avalia, ainda, que o financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS) ainda é insuficiente. “O Sul e Sudeste, por terem escala maior, conseguem ter um custo médio menor do que o Norte e o Nordeste. E a capacidade instalada [de atendimento] é menor. Ou seja, para prestar o serviço deve ser mais caro”, relata o especialista.
“O principal impacto disso é a desigualdade ou a iniquidade, para dizer melhor. Há muita gente que não tem acesso [aos serviços de saúde]. Ou, quando tem acesso, é de forma tardia. Isso causa mais mortes e menor qualidade de vida daqueles que têm o tratamento [contra o câncer]. Basicamente, se está desperdiçando dinheiro antes e depois. Antes, por se financiar o dinheiro de forma errada. E, depois, porque financia e não tem um resultado”, completa Araújo, ao lembrar que a maioria dos gastos é com tratamento.
Desafios
E também, o gestor do Inca, também que a região Norte enfrenta grandes desafios no combate ao câncer por conta de vazios assistenciais: “É uma região que tem estados muito grandes, onde não tem uma densidade demográfica, às vezes, que permite escolhas definidas de onde é o melhor local para se construir uma rede. Tem poucos hospitais, um registro de incidência mais baixo, mas uma mortalidade mais alta. Isso mostra que devemos ter um retardo no diagnóstico, porque chega em fases avançadas da doença”.
Painel
O segundo dia do evento também foi marcado pelo lançamento da Plataforma Nacional de Dados Oncológicos – Data Câncer Brasil, uma iniciativa do Instituto Lado a Lado pela Vida voltada para gestores de saúde sobre os cenários da oncologia no Brasil. A plataforma, que detalha o panorama nacional e recorte por estado sobre casos de câncer, financiamento com ações pela doença, diagnósticos, entre outras informações, estará acessível apenas a partir de janeiro de 2025.
Fonte: Gabriel Pires-Direto de Brasília/DF/OLiberal